A inclusão digital tem sido um dos maiores desafios enfrentados pelas pessoas com deficiência, pois muitas vezes as barreiras digitais podem impedir ou dificultar o pleno acesso e a participação delas nas diferentes plataformas e redes de comunicação. Porém, graças à soma de esforços contínuos de organizações como a Apae Brasil, bem como aos avanços tecnológicos, o cenário está mudando gradualmente.
“O protagonismo das pessoas com deficiência na comunicação digital” é um dos oito assuntos que serão discutidos na Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla de 2023, que terá como tema “Conectar e somar para construir inclusão”. Promovida pela Federação Nacional das Apaes (Fenapaes) desde 1963, entre os dias 21 e 28 de agosto, a campanha foi introduzida no calendário nacional pela Lei nº 13.585/2017.
As pessoas com deficiência têm utilizado as plataformas digitais para compartilhar conhecimento e experiências. Vídeos, blogs, podcasts e posts em redes sociais, por exemplo, oferecem uma plataforma para que essas vozes sejam ouvidas, contribuindo para uma compreensão mais profunda da vida com deficiência. Engajada na comunicação digital, a autodefensora da Apae Brasil, Tâmara Soares, afirma que usa essas plataformas para defender os direitos das pessoas com deficiência.
“Uma das minhas maiores experiências pessoais é apresentar o programa Autodefensoria em Ação, da Rede Apae Brasil, porque por meio desse projeto aprimorei a minha linguagem e oratória, além de descobrir um talento desconhecido de comunicadora, que me abriu novos horizontes e despertou o meu interesse pela comunicação. Além disso, me deu estratégias de trabalho para alcançar o nosso público-alvo, que é a pessoa com deficiência, e, consequentemente, todas as pessoas que desejam se envolver, independentemente de ser com ou sem deficiência”, ressalta.
A autodefensora potiguar enxerga na tecnologia uma oportunidade para explorar novas perspectivas e impulsionar, ainda mais, a causa das pessoas com deficiência. “A tecnologia é nossa aliada. Por meio dela, fortalecemos a nossa capacidade de divulgar conhecimento e direitos, beneficiando, sobretudo, as pessoas com deficiência. Um exemplo é o nosso programa mensal, que nos conecta diretamente com as pessoas com deficiência para atualizá-las com assuntos voltados aos seus interesses diários, inclusive, chamando a atenção das pessoas sem deficiência, para que conheçam o nosso propósito de incluir com respeito, empatia e responsabilidade social”, destaca.
O autodefensor da Apae Brasil, Francisco Matos Além, corrobora com as palavras da amiga Tâmara, e complementa que a inclusão digital é uma necessidade para possibilitar um aprimoramento no bem-estar das pessoas com deficiência. “A inclusão digital promove a melhoria da qualidade de vida. Ela torna a comunicação mais acessível para que as pessoas com deficiência não fiquem à margem das mudanças, das oportunidades e das facilidades que a tecnologia traz para a sociedade”, pontua.
Engajamento
As possibilidades oferecidas pelas redes sociais e tecnologias têm revolucionado a maneira como as pessoas com deficiência se engajam em causas importantes. “Elas nos permitem fazer campanhas e mobilizações sociais humanizadas de forma prática, levando conhecimento e fortalecendo a união de várias organizações que têm a pessoa com deficiência e suas famílias como protagonistas, facilitando assim o acesso às suas histórias e necessidades expostas nessas ferramentas, que são fortes aliadas para aproximar a sociedade de nós”, afirma Tâmara.
Além de engajar e tomar conhecimento das lutas por direitos e garantias e a inclusão das pessoas com deficiência, Matos Além vê que os programas e as campanhas utilizando tecnologias e as redes sociais proporcionam autonomia.
“O mundo em que vivemos está inserido na era digital, em que as pessoas com deficiência estão cada vez mais conectadas por meio de diversas ferramentas. Programas, congressos, seminários, vídeos e outros meios buscam a participação das pessoas com deficiência, visando o desenvolvimento de autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social”, enfatiza.
Pandemia
Tâmara Soares lembra que durante a pandemia de Covid-19 a tecnologia se mostrou importante para que a luta por direitos não retrocedesse. “A comunicação virtual se intensificou e nós, autodefensores, participamos de reuniões, debates, cursos, campanhas e fizemos vídeos mostrando nosso cotidiano e nossas conquistas, incentivando outras pessoas. Nós praticamente nos reinventamos para continuar os trabalhos que já tínhamos, para que não ocorresse um retrocesso ou paralisação de nossa luta, que ganhou mais visibilidade, mesmo em tempos difíceis de isolamento e falta de contato físico”, diz.
Acessibilidade
Embora tenham avanços significativos na tecnologia, ainda há muito a ser feito para garantir que as pessoas com deficiência tenham um papel ativo na comunicação digital e na sociedade em geral. Uma das questões cruciais é a acessibilidade tecnológica.
“São necessárias ações que promovam a facilitação de acesso às redes de internet, a promoção de cursos e a digitalização de métodos de ensino e informação. É necessário, ainda, melhorar a prestação de serviços e desenvolver políticas públicas que favoreçam o acesso igualitário às tecnologias digitais. Precisamos democratizar o acesso à informação”, ressalta Francisco Matos Além.
“É importante estarmos conscientes de que adaptações precisam ser feitas e que a acessibilidade tecnológica precisa ser um assunto discutido. Entendo que hoje todo mundo tem um celular com internet ou outro aparelho eletrônico que ultrapassa fronteiras em suas mãos, mas a inclusão precisa ser uma prioridade para que tenhamos qualidade nessa conexão. A tecnologia até é mais acessível do que o mundo real, mas ainda falta uma melhor qualidade de sinal e ter programas digitais mais simples que precisam do apoio de tecnologias assistivas qualificadas e cada vez mais avançadas”, acrescenta Tâmara Soares.
Canal de mudança
Na Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla de 2023, o chamado é para que todos reconheçam e valorizem também as contribuições das pessoas com deficiência no mundo digital e fora dele. Para os autodefensores da Apae Brasil, a diversidade de vozes e perspectivas enriquece a sociedade como um todo, “e é nosso dever garantir que ninguém seja deixado para trás”.
“Acreditamos que nós, pessoas com deficiência, precisamos ser cada vez mais estimuladas a estarmos no mundo da tecnologia. Por meio dela, conseguimos ampliar conteúdos e trazer ideias para modificar a realidade excludente que ainda vivemos. Devemos ser, nós mesmos, o canal de mudança”, finalizam.
Apae Botucatu
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