A construção de uma sociedade verdadeiramente inclusiva requer a desconstrução dos impedimentos sociais que limitam a plena participação das pessoas com deficiência. Por meio de educação inclusiva, acessibilidade, sensibilização e combate ao preconceito, juntamente com políticas públicas efetivas, podemos transformar uma sociedade, onde todas as pessoas sejam valorizadas, respeitadas e tenham igualdade de oportunidades. A Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla de 2023 nos convida a refletir e agir em prol dessa causa, conectando esforços e somando para um futuro mais inclusivo e justo para todos.
“Como criar uma sociedade de todos e para todos, desconstruindo os impedimentos sociais” é um dos oito assuntos que serão discutidos na Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla de 2023, que terá como tema “Conectar e somar para construir inclusão”. Promovida pela Federação Nacional das Apaes (Fenapaes) desde 1963, entre os dias 21 e 28 de agosto, a campanha foi introduzida no calendário nacional pela Lei nº 13.585/2017.
O assessor técnico de Defesa de Direitos e Mobilização Social da Apae Brasil, Adinilson Marins, tem paralisia cerebral, com comprometimento motor e na fala. Aos 51 anos, o advogado de Patos de Minas (MG) destaca que a principal barreira enfrentada pelas pessoas com deficiência é a atitudinal. Segundo o artigo 3º da Lei Brasileira de Inclusão (LBI), as barreiras atitudinais são “atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem a participação social da pessoa com deficiência em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas”.
“A principal barreira é a atitude. No entanto, todas as barreiras, por mais difíceis que sejam, podem ser superadas, desde que haja boa vontade, respeito e, acima de tudo, acreditemos na outra pessoa”, aponta Adinilson, relembrando uma das grandes dificuldades dele: a educação. “No ensino básico, fiquei muitos anos fora da escola, por não escrever manuscritamente. E todas as vezes em que eu procurava uma escola vinham com a justificativa de que ‘você não consegue escrever, tão logo não consegue aprender’”, lembra.
Durante o ensino superior, Adinilson conta que o momento mais marcante foi quando uma professora do curso de direito o chamou e disse: “Você só está estudando para adquirir conhecimento, jamais poderá ou terá condições de exercer a profissão”. O advogado, porém, afirma ser conhecido pela persistência. “Não sei se é uma qualidade ou defeito que eu tenho, mas sou muito teimoso. Se uma pessoa quiser me estimular é só falar que não dou conta de fazer o que quero”, diz.
Tecnologia
Durante a trajetória educacional e profissional de Adinilson, a tecnologia desempenhou uma função crucial na inclusão. Desde colegas de classe que o auxiliavam até ao aparato tecnológico no ambiente de trabalho, a tecnologia se mostrou uma aliada poderosa para garantir igualdade de oportunidades. “Na época da escola, a minha principal ‘tecnologia’ foi um colega de sala. Ele sempre copiava para mim, me fornecia a maior gama de informações possíveis. E hoje, no meu trabalho, tenho todo um aparato que favorece muito o exercício da minha profissão. Desde uma pessoa que me apoia até as facilidades das novas tecnologias”, ressalta.
Adinilson ainda enfatiza que a tecnologia tem capacidade de quebrar barreiras sociais e preconceitos. “Hoje as facilidades são maiores do que na minha época. Nós temos acesso às informações, com isso, o conhecimento é mais difundido, tanto para as pessoas com deficiência quanto para a população em geral. O avanço tecnológico abre caminho para uma sociedade mais inclusiva e acessível”, frisa.
Entretanto, apesar dos benefícios, o assessor da Apae Brasil observa que muitas tecnologias acessíveis ainda têm custos elevados, o que dificulta o acesso para uma parcela significativa da população com deficiência. Ele ressalta a relevância de programas que facilitem o acesso a essas tecnologias vitais para a inclusão.
“Essas tecnologias têm um custo bastante inacessível. Para boa parte da população com deficiência é muito caro, embora hoje existam alguns programas que diminuem o custo. A minha primeira cadeira motorizada, por exemplo, eu ganhei. Pois eu não tinha condição nem a minha família, por mais que se esforçassem, não teríamos tantas condições. Eu brinco, mas é uma brincadeira real: eu não tenho uma cadeira motorizada, e sim uma perna motorizada, tamanho foi o impacto positivo dela em minha vida. Uma vez que, até por volta dos meus 29 a 35 anos, eu andava com dificuldades, mas andava. Entretanto, com a idade, foi ficando cada vez mais difícil e dolorido”, reforça
Construindo uma sociedade
Adinilson Marins aponta que, para a construção de uma sociedade de todos e para todos, a população tem um papel primordial na promoção de igualdade e inclusão. “A nossa sociedade ainda está muito aquém do conhecimento e do respeito às diversidades e diferenças. Para melhorarmos isso, eu digo uma palavra que falo sempre e acredito fielmente: conhecimento. A educação de forma proativa. Porque quando se fala em educação, vem logo à mente adquirir conhecimento acadêmico. Mas a educação, para mim, não é só isso. Essa é só uma parte dela. Educação é o respeito, é aprender onde termina o meu direito e começa o do outro. Por isso é importante termos a Semana Nacional, porque traz o debate à tona. Ela mostra como as coisas podem e têm que ser diferentes”, afirma.
Marins pontua que o trabalho feito pela Apae Brasil, a exemplo da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, efetua ações vitais na conscientização e na busca pela inclusão. Para o advogado, que integra o movimento apaeano desde a década de 1980, a instituição é essencial para dar visibilidade às pessoas com deficiência e fortalecer laços.
“As Apaes fazem um trabalho muitas vezes de formiguinha, mas uma formiguinha é capaz de carregar um elefante. Elas têm um papel importante, porque provocam um desconforto na comunidade, pois tiram as pessoas com deficiência da invisibilidade e tentam, a todo custo, garantir o direito delas. A principal missão das Apaes é justamente a defesa e garantia dos direitos das pessoas com deficiência e de suas famílias. E a família é a base de tudo, é aquele núcleo que, quando bem resolvido, vai criar ramificações e produzir novas conexões”, finaliza.
Fonte: https://apaebrasil.org.br/noticias/desconstruir-barreiras-para-construir-uma-sociedade-inclusiva